A violência assusta o Oeste potiguar
Quem gosta de entrar pela madrugada
de frente à televisão, pode assistir, no Agro Canal ou no Canal do Boi, a
filmes antigos do velho Oeste norte-americano. Na tela, o que se vê são
aquelas cenas de sempre dos filmes desta espécie: muito tiroteio,
execuções de planos de vinganças, cidades sem lei, enfim, muita
violência, até que se tem, como em todo filme que se preza, um final
feliz.
Na vida real, no Oeste do Rio Grande do
Norte, as cenas são muito parecidas com as da telinha. Uma das
diferenças é o tráfico de drogas, que não existia no velho Oeste
estadunidense retratado pelo cinema. A outra diferença é que, por aqui, a
população anda longe de chegar a um "final feliz".
Mas, motivadas ou não pelas drogas que
parecem dominar todos os cantos, as cenas reais de violência amedrontam
os que habitam o sertão semiárido do Oeste potiguar.
São homicídios, assaltos, furtos,
invasões a cidades e outras formas de violência que quase que
diariamente têm sido vivenciadas pelos indefesos cidadãos do interior do
Rio Grande do Norte.
Em alguns Municípios, como Mossoró,
Umarizal, Frutuoso Gomes e Janduís, o problema parece mais crônico. Nas
três primeiras cidades citadas, os homicídios praticados ao longo dos
anos dão corpo a dados estatísticos absurdos.
O Estado, a quem cabe o dever de prestar
ao cidadão o serviço público essencial de segurança pública, assiste a
tudo inerte, sem tomar as medidas que lhe cabem.
Por essas bandas do Estado, um mesmo
Delegado de Polícia Civil responde por várias Delegacias de Polícia, sem
contar, em nenhuma delas, com uma estrutura mínima de trabalho.
Falta de estrutura, por sinal, é o que
sobra. Cite-se como exemplo o caso da única viatura da 7ª Delegacia
Regional de Polícia Civil (7ª DRPC), que tem sede em Patu. Ela ainda
trafega porque um empresário local doou dois pneus novos, e os outros
dois, que estavam em estado de penúria, foram doados, de segunda mão,
por outro cidadão.
Nas Delegacias de Polícia do Estado,
assim como na maioria das subunidades da Polícia Militar do Oeste, falta
até mesmo um simples sinal de internet. Para ter acesso à grande rede
mundial de computadores, policiais (civis e militares) têm, em muitos
casos, que custear, de forma rateada, o preço do serviço de internet,
indispensável em dias de hoje para quem trabalha com segurança pública.
Os efetivos das duas Polícias (Civil e
Militar) são outra deficiência grave. São reduzidos e, em vários
Municípios, é comum que o efetivo do dia seja de dois policiais, e às
vezes até de um.
A Companhia de Polícia Militar (CPM) de
Campo Grande somente existe, como diria um conhecido bacharel em
Direito, na "frieldade inorgânica da celulosa, o papel", pois, na
prática, o que se vê é um prédio antigo, que também abriga a Delegacia
de Polícia, com um efetivo diário de três ou no máximo quatro homens de
serviço, que são vez por outra reforçados pelo Grupo Tático Operacional
(GTO) do 10º Batalhão de Polícia Militar (10º BPM), que tem sede em
Assu. Na verdade, na sede da CPM de Campo Grande deveria existir uma
equipe do GTO.
O Pelotão da PM de Baraúna é outra
subunidade esquecida pelo Estado. Localizado numa região de divisa com o
Estado do Ceará, o Pelotão baraunense ainda funciona nos moldes em que
funcionava quando era Destacamento.
Em Patu, a Companhia de Polícia Militar (CPM) padece de diversos problemas: falta de efetivo, falta de estrutura física, etc..
Se o combustível que abastece as
viaturas das duas Polícias é pouco, mais difícil ainda é conseguir
abastecer os veículos. Para os que estão em Patu, Messias Targino,
Rafael Godeiro ou noutros Municípios da região, o único jeito é
descolar-se até Pau dos Ferros, Mossoró ou Assu, a fim de ser feito o
abastecimento das viaturas, que, ao retornarem aos seus lugares de
origem, já chegam com metade do combustível objeto do abastecimento.
O Instituto Técnico-Científico de
Polícia (ITEP), que auxilia a Polícia Civil nas investigações criminais,
está cada vez pior em termos de estrutura e de condições de trabalho.
O sistema prisional dispensa
comentários. A imprensa diariamente noticia que ele sofre de
superlotação, falta de condições de trabalho e sucessivas tentativas de
fugas, algumas até concretizadas.
Enquanto tudo isso ocorre, o Estado não anuncia investimentos de monta no setor de segurança pública.
Mas ele não é o único a ficar paralisado
diante do caos: a população também não se manifesta cobrando
providências para problemas que, antigos, atravessam governos e parecem
sem solução
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